sábado, 5 de fevereiro de 2011

AS DUAS SINTAXES


Carlos Castaneda,  em seu fantástico encontro com dom Juan Matus, um xamã yaqui do antigo México, deixou-nos maravilhosos escritos, frutos de uma “iniciação” privilegiada, tenho absoluta certeza.
Alguns conceitos de dom Juan são amplamente citados por um grande número de cientistas, de peso; isso é o que mais me fascina, nos ensinamentos dele ─ uma aproximação do místico com o científico, futuro grande caminho da humanidade; é no que creio.
Abaixo, abertura do livro O lado ativo do Infinito, postada dessa forma, pois é praticamente poesia, e tomaria muito espaço
“SINTAXE
Olhando fixamente as suas equações,/ um homem disse que o universo teve um começo./Uma cadeia de estrondos e o universo nasceu./ E está se expandindo, ele disse./ Até calculou a extensão de sua vida: dez bilhões de voltas da Terra em torno do Sol./ E todo o planeta aplaudiu; / concluíram que seus cálculos eram ciência./ Ninguém se deu conta de que ao colocar um começo no universo,/o homem apenas refletiu a sintaxe de sua língua materna;/uma sintaxe que para validar qualquer fato/ exige começo, como o nascimento,/ continuação, como a maturidade,/e fim, como a morte. / O universo começou,/ e está envelhecendo, garantiu o homem, / e morrerá, como tudo  morre./ Como ele mesmo morreu, depois de confirmar matematicamente/ a sintaxe de sua língua materna.”

“A Outra Sintaxe
Terá o universo um começo?/ Será o big-bang uma explicação?/ Essas não são perguntas, embora pareçam ser. / Começo, meio e fim como condição para validar qualquer fato/ é a única sintaxe possível?/  Eis a verdadeira pergunta/ Outras sintaxes existem./  Há uma, entre outras, que permite tomar como fatos/ variações de intensidade./ Nessa sintaxe, nada começa e nada tem fim;/ assim, nascimento não é um fato claro e bem definido, mas um tipo específico de intensidade, /assim como a maturidade e assim como a morte./ O homem dessa sintaxe, ao olhar suas equações,/ percebe ter calculado variações de intensidade suficientes/ para afirmar com autoridade/ que o universo nunca começou/ e nunca terá fim,/ mas que passou, passa e passará/ por intermináveis flutuações de intensidade./ Esse homem pode bem concluir/ que o próprio universo é o veículo de intensidade,/ no qual se pode embarcar/ numa viagem sem fim./ Concluirá tudo isso e muito mais,/ quem sabe sem nunca perceber/ que estará simplesmente confirmando/ a sintaxe de sua língua materna.”
Maravilhoso, não?
Colaboração:  Maria – Estrela Lunar Amarela

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