sábado, 17 de março de 2012

SEGREDOS DE CLAUSURAS


 17/03/2012


O período eleitoral se aproxima e voltam as mesmas ladainhas inconsequentes  que só servem para tumultuar, criar clima de desavença e trocas infindáveis de ─  “farpas”.

Foi assim, infelizmente, nas eleições de 2010; era quase impossível saber  se as discussões eram sobre como governar ou se eram “pregações extremistas” de cunho religioso, sob temas que não deveriam estar, naquele momento, em pauta.

De cara, queremos dizer o seguinte, em relação ao assunto que conversaremos:

Aborto não é uma questão Pública; é assunto Privado/Particular; entretanto, quando esse privado, de uma forma ou de outra, desemboca no público, este precisa tomar alguma decisão.

Explico.

Primeiro, se me perguntarem se sou a favor do aborto, direi que não, muito mais pelas várias condições de se evitar a gravidez indesejada, a causa principal de grande maioria deles.

Quando alguma mulher ─  as vezes assim vista mais pelo gênero do que propriamente pela idade ─ considera que deve tomar essa atitude  ou é “impelida” a tomá-la, normalmente recorre a alguma droga ou escusos locais onde o aborto é praticado sem a mínima atenção à saúde; a clandestinidade desses locais, já os “isenta” de maiores cuidados na execução do procedimento,  até mesmo de simples questões de higiene e,  humanidade.

A grande maioria dessas criaturas acaba apresentando, na sequência quase imediata, graves problemas que irão desembocar em atendimentos emergenciais, públicos; aí terão que ser tratadas, sem maiores questionamentos.

É claro que existe uma pequena parcela da população que não precisa apelar para escusos locais; podem executar o procedimento em locais de alto padrão, com todos os cuidados necessários; para tal, basta pagar um bom preço pelo “serviço” prestado, com excelência!

Normalmente, esses bem estabelecidos, não fazem parte da esfera da “politização do aborto”; para eles, não é impingida conotação de “crime” ao ato praticado,  mesmo porque, como desfrutam de benesses financeiras, pagam muito bem pelo que querem ─ no caso, abortar ─, e o fazem na “clandestinidade” de excelentes locais, socialmente muito bem, recomendados.

Quando a esfera pública ─  governo,  acaba sendo envolvido indiretamente numa questão de cunho exclusivamente pessoal, ao ter que prestar assistência médica à grande maioria que, neste caso específico,  passou por situação de aborto clandestino, resolve propor atendimento visando resguardar vidas, as religiões instituídas e  os “moralmente” indignados, resolvem agitar as massas; os “pastores de ovelhas” recitam textos e mais textos em detrimento de tal ousadia governamental. Todos se julgam no direito de “defender o direito à vida”;  a maioria esquece que em “históricos” religiosos,  encerrados em clausuras várias e diferenciadas, nem a vida, nem o direito à vida, foram respeitados, inúmeras vezes.

Tudo, então, fica envolvido numa tremenda,  hipocrisia!

Tentei trazer para este artigo, números oficiais e atualizados sobre abortos e mortes de mulheres, em consequência de. Nada consta,  em publicações mais sérias, pelo menos nas que estão disponibilizadas. Entretanto, informações um pouco mais precisas e confiáveis, referentes a 2007, informam que mais de 300 mortes ocorreram, nesse ano, em razão de complicações advindas de abortos clandestinos. Nesse mesmo ano, esse mesmo tipo de procedimento, foi responsável por 230.523 internações em unidades do SUS; isto dá uma média aproximada de 700 internações, por dia!

Particularmente, considero que em função do exposto no parágrafo acima, é mais que correto que o código penal, no que tange ao tema aborto, mais especificamente, passe por revisão e seja retirada a “tarja”  de criminalidade à decisão que uma mulher assuma, de abortar. Em isso sendo concretizado  ─ mudança de ótica da lei ─,  o Estado pode e deve oferecer programas que possibilitem um tratamento específico dessa ação visando, aí sim, preservar a vida que se coloca em risco, através de abortos clandestinamente efetuados.

Milhares de mulheres não podem esperar por um acordo entre as visões religiosas, filosóficas, jurídicas, etc.,  sobre aborto. A questão da decisão em abortar, é uma questão que deve pertencer, única e exclusivamente, ao universo pessoal, de cada mulher. Se terão ou não, maturidade suficiente, ética suficiente, responsabilidade suficiente, sentimento suficiente para decidir interromper a resultante de um ato praticado, na maioria das vezes, por vontade própria e consciente da possível consequência, não será o fato de terem a escolha, retirada da conotação de crime, que fará diferença em relação ao que irão decidir.  O número de abortos, com certeza, não irá aumentar, como alguns costumam argumentar.

Não sei se estamos errados,  mas acreditamos que há certos assuntos que não deveriam servir de plataforma política; são assuntos que abrangem o universo pessoal, de cada um; são opções, escolhas que nem as religiões, nem os governos deveriam intervir; são questões de foro íntimo e como tal merecem, no mínimo,  um tratamento humanitário e não, exploratório.

Envolver campanha política,  em assuntos de foro íntimo é, no mínimo, uma falta de ética das mais perversas; quando a isso,  somasse disputas religiosas, a coisa toda tornasse extremamente belicosa, fugindo de qualquer senso ético e humano.

O mix de questões de foro íntimo, política e religião, em período eleitoral, é simplesmente degradante;  cheira a ranço, mofo, bolor;  gera cenários que lembram a Idade das Trevas, a Inquisição e afasta,  o que realmente deveria ser discutido.

A marca maior, entretanto, do acima mencionado é uma única e verdadeira ─ Hipocrisia!

Maria ─ Estrela Lunar Amarela
─ algum erro detectado, por favor, nos informe.

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