E daí? Tem um tempinho, pra mim?
Essa é a frase corriqueira usada quando quero falar com
amigos, sobre assuntos extras que não podem esperar pelo papo habitual,
justamente por saber que eles têm excessiva carga de compromissos, agendados.
As agendas ─ de papel ou eletrônicas ─ são destinadas a
marcar compromissos a serem cumpridos; são calendários a serem preenchidos em
seus meses/dias/horas com anotações de atividades, que não podem ser
esquecidas.
Antes de continuarmos, no tema, vamos dar uma olhadinha
rápida na história dos calendários.
A palavra calendário
é derivada da palavra latina ─ Kalenda que designava o 1º dia de
cada mês, no calendário romano.
Historicamente, o Calendário Romano foi o 1º a ser
criado. Era um calendário lunar contendo 10 meses que, segundo a lenda, teria
sido implantado por Rômulo isto, em 753 a.C. Nesse calendário existia a palavra Kalenda
marcando o 1º dia de cada mês, data essa em que as pessoas costumavam fazer
seus pagamentos.
Em 46 a.C., ele foi substituído pelo Calendário Juliano,
promulgado por Júlio Cesar, tendo sido utilizado até 1582 d.C. e nele, Kalenda
havia sido suprimido.
Só por curiosidade, existe uma expressão, em português ─
“isto vai ficar para as calendas gregas”, indicando algo que nunca ocorrerá,
justamente pela inexistência delas, no antigo calendário grego e é uma
aproximação da expressão original: Ad Kalendas graecas.
O Calendário Gregoriano, vigente até hoje, foi promulgado pelo
papa Gregório XII em 1582 e sendo adotado, paulatinamente, ao longo de mais de 3
séculos. O último país a adotá-lo, foi a Turquia, em 1926.
Alguns outros calendários, mais específicos, existem; entre
eles o calendário judaico é bastante interessante. Nele, em cada ciclo de 19
anos, 7 deles tem 13 meses e não, doze; são denominados ─ Shaná Meuberet.
Pelo calendário Judaico, este ano é 5774 iniciado no mês de
setembro, uma diferença de 3761 anos em comparação ao 2013, gregoriano.
Já no calendário chinês, o ano é o 4711. Ele também tem
ajustes e são feitos a cada 8 anos, quando então, são acrescentados 90 dias.
O pouco que vimos, vem apenas reforçar o que sabemos ─ a
regência por calendários, não é natural ─, ela pode ser até cômoda, prática,
imprescindível; natural, não.
Há, no entanto, um movimento mundial em favor da mudança do
calendário gregoriano ─ mais especificamente ─ pelo Calendário Maia, esse sim,
voltado a um acompanhamento natural dos ciclos do tempo. É o conhecido TZOLKIN.
O Título deste post tem a ver com a observação de que o animal
humano, em sua grande maioria, vive mais ─ e tem seu tempo cronometrado ─ em
função de agenda do que em função do sentido de Viver. Nos programamos 2, 3, 4
meses (ou mais), para coisas que deverão acontecer em determinado mês/dia/hora.
Analisando algumas delas, podemos observar como as horas do
dia, os dias da semana, as semanas do mês, os meses do ano estão abarrotados de
compromissos; assim, o sentido da vida passa a ser, para muitos, ter uma agenda
cheia; no entendimento de quem as usa, tudo está devidamente previsto conforme
ditames de meses, datas, horas.
Agendas cheias, podem insuflar o ego de alguns; de certa
forma dão “provas” do status quo, do usuário; por exemplo,
se você quer marcar consulta com determinado profissional da área da saúde ─ ou
de qualquer outra área ─ e consegue para o dia seguinte, dúvidas pintam em sua
cabeça, entre elas ─ será que esse médico é bom? Será que esse profissional é bom? ─ pois
outros tentados antes, estavam com meses de agendamento lotado e isso, para
atendimento particular.
Em termos práticos, é claro que as agendas surtem um grande
efeito; se compromissos não podem ser esquecidos, o melhor é não confiar na
memória; aliás, isso seria inviável,
na maioria dos casos e, em nossa época, mais ainda.
Na verdade, o problema não está propriamente nesse
instrumento organizacional de atividades; o problema está na quase inversão de
prioridades ─ é prioritário para muitos, ter sua vida totalmente agendada
enquanto a Vida, em seu sentido mais pleno, fica totalmente marginalizada; não
há espaço para Viver nas agendas de
todos nós; confundimos a prisão dos
compromissos excessivos com ─ VIDA!
Mas, e se isso que consta do parágrafo acima, representar sentido
de vida para muitos, quem poderá dizer que está errado? Em estando errado, só a
própria pessoa, somente ela deve chegar a essa conclusão e não esperar para ter
um piripaque
e ouvir, de seu médico, a necessidade em diminuir o ritmo de vida ou mudá-lo,
radicalmente.
Usei muitas agendas, em minha vida, não para agendar
compromissos e sim, para anotar pensamentos/ideias que surgiam, repentinamente;
elas sempre me acompanhavam pois os insights
não tinham data/hora, para surgirem; gostava de marcar dia, hora e local para
posteriores análises.
Fora isso, fui/sou totalmente avessa a elas; talvez haja
explicação bem clara ─ é que sou avessa a compromissos; não corro atrás deles,
para assumi-los; se são inevitáveis, cumpro-os. Pautei minha vida por não tê-los; cedo, muito
cedo decidi não casar e nem ter filhos; trabalhei apenas enquanto precisei. Por
um fato circunstancial, fui beneficiada com a possibilidade de não precisar
trabalhar para cobrir compromissos materiais como comer, pagar aluguel,
telefone, internet etc.
Creio que é importante dizer algo ─ mesmo sendo totalmente
avessa a compromissos, tenho grande censo de responsabilidade; são coisas
diferentes, bem diferentes, sob minha ótica. Censo de responsabilidade parece
ser algo que a pessoa nasce com ele, ou não. Censo de responsabilidade é um Sentir, é uma Vivência; ninguém pode ser obrigado a ter responsabilidade;
compromissos, sim.
Voltando, o total desconforto com compromissos fez-me também
viver a vida sem, praticamente, nenhum planejamento; vivia e vivo cada dia por
dia.
A desvinculação prematura do que chamava de “máquina”
(leia-se sistema, hoje), teve sua consequência, é claro; chego, daqui a pouco ─
se isso estiver naturalmente previsto, para minha Vida ─ aos setenta anos sem
nenhum bem material; nem casa, nem carro, nem aplicações financeiras ─ itens
considerados básicos, do convencionado pela maioria, como sinalizador de uma
vida bem sucedida ─; nada, materialmente falando.
Não adotei, para mim o que muitos denominam de ─ programação
de vida; só sei que agi em acordo com que meu coração pediu/pede e, muito feliz
pela Vida ter permitido que meus neurônios não tivessem a necessidade de
possíveis desgastes em atividades totalmente contrárias àquelas que me atraem ─
viver o amor (hoje, muito mais holístico); pensar, ler, estudar, pesquisar, analisar, escrever,
pintar, ouvir música, bater papo, dirigir (quando tive um fusquinha e hoje,
carro de uma amiga); beber uísque, viajar de avião, entre outras; para
mim, elas não são atividades e sim, atitudes de brinde à VIDA!
Essa foi uma das razões que me fez apaixonada por Vinícius de
Moraes! Ele brindou a Vida, literal e metaforicamente, falando. Basta olhar a
letra daquela música – O que é que tem
sentido nesta vida ou de Testamento, para ter pequena ideia, de
intenções que ele não tinha, em
relação a ela ─ Vida!
E razão mais do que suficiente, também, para prestar muita
atenção naquela música ─ Ouro de Tolo,
de Raul Seixas.
Pode parecer que fugi do tema, dando várias voltas, mas não;
agendar demais, no meu simples entendimento, pode nos fazer perder a noção de
que as melhores coisas, da Vida, independem de agendamentos futuros; elas estão
acontecendo exatamente ─ AGORA!Pode dar ideia, também, que podemos “aprisionar” o tempo, agendando-o para nossa própria comodidade e lucro; triste ilusão!
O AGORA é o Tempo que dispomos para Viver e ele não é
cumulativo, como muitos pensam; ele é único; não se repete e ignora ─
agendamentos.
Viver o Agora é uma questão de percepção e aprendizado;
não se consegue do dia para a noite e não é, exatamente, o que as pessoas
imaginam ser; viver o Agora,
simplesmente, é uma questão de estar integralmente
envolvido no que se está fazendo; é, em seu básico, estar focado no agora daquela atividade específica,
seja ela qual for. Isso não é fácil, inicialmente; sempre que estamos fazendo
algo nossa atividade mental nos remete a outra e mais outra; isso nos torna
fragmentados; nos faz desperdiçar energia; nos cansa pois, por exemplo, enquanto
cumprimos uma atividade, das agendadas já estamos, quase que automaticamente,
pensando na (s) próxima (s).
Encerrando, o problema não é a agenda, em si, repito; o
problema, creio, é considerar como sentido de vida, ter dezenas e dezenas de compromissos agendados e não ter
coragem de trocar, um dia dessa agenda, por uma Tarde em Itapoã (só para
lembrar Vinícius), por exemplo.
Maria-Estrela Lunar Amarela
─ qualquer erro, por
favor, nos informe.
Esqueci de algo importante - os amigos citados, no início do post, teriam coragem - como já tiveram - de fazer a troca proposta no final, dele.
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