segunda-feira, 11 de novembro de 2013

AGENDA vs. TEMPO



E daí? Tem um tempinho, pra mim?

Essa é a frase corriqueira usada quando quero falar com amigos, sobre assuntos extras que não podem esperar pelo papo habitual, justamente por saber que eles têm excessiva carga de compromissos, agendados.
As agendas ─ de papel ou eletrônicas ─ são destinadas a marcar compromissos a serem cumpridos; são calendários a serem preenchidos em seus meses/dias/horas com anotações de atividades, que não podem ser esquecidas.

Antes de continuarmos, no tema, vamos dar uma olhadinha rápida na história dos calendários.
A palavra calendário é derivada da palavra latina ─ Kalenda que designava o 1º dia de cada mês, no calendário romano.

Historicamente, o Calendário Romano foi o 1º a ser criado. Era um calendário lunar contendo 10 meses que, segundo a lenda, teria sido implantado por Rômulo isto, em 753 a.C.  Nesse calendário existia a palavra Kalenda marcando o 1º dia de cada mês, data essa em que as pessoas costumavam fazer seus pagamentos.
Em 46 a.C., ele foi substituído pelo Calendário Juliano, promulgado por Júlio Cesar, tendo sido utilizado até 1582 d.C. e nele, Kalenda havia sido suprimido.

Só por curiosidade, existe uma expressão, em português ─ “isto vai ficar para as calendas gregas”, indicando algo que nunca ocorrerá, justamente pela inexistência delas, no antigo calendário grego e é uma aproximação da expressão original: Ad Kalendas graecas.
O Calendário Gregoriano, vigente até hoje, foi promulgado pelo papa Gregório XII em 1582 e sendo adotado, paulatinamente, ao longo de mais de 3 séculos. O último país a adotá-lo, foi a Turquia, em 1926.

Alguns outros calendários, mais específicos, existem; entre eles o calendário judaico é bastante interessante. Nele, em cada ciclo de 19 anos, 7 deles tem 13 meses e não, doze; são denominados ─ Shaná Meuberet.
Pelo calendário Judaico, este ano é 5774 iniciado no mês de setembro, uma diferença de 3761 anos em comparação ao 2013, gregoriano.

Já no calendário chinês, o ano é o 4711. Ele também tem ajustes e são feitos a cada 8 anos, quando então, são acrescentados 90 dias.
O pouco que vimos, vem apenas reforçar o que sabemos ─ a regência por calendários, não é natural ─, ela pode ser até cômoda, prática, imprescindível; natural, não.

Há, no entanto, um movimento mundial em favor da mudança do calendário gregoriano ─ mais especificamente ─ pelo Calendário Maia, esse sim, voltado a um acompanhamento natural dos ciclos do tempo. É o conhecido TZOLKIN.
O Título deste post tem a ver com a observação de que o animal humano, em sua grande maioria, vive mais ─ e tem seu tempo cronometrado ─ em função de agenda do que em função do sentido de Viver. Nos programamos 2, 3, 4 meses (ou mais), para coisas que deverão acontecer em determinado mês/dia/hora.

Analisando algumas delas, podemos observar como as horas do dia, os dias da semana, as semanas do mês, os meses do ano estão abarrotados de compromissos; assim, o sentido da vida passa a ser, para muitos, ter uma agenda cheia; no entendimento de quem as usa, tudo está devidamente previsto conforme ditames de meses, datas, horas.
Agendas cheias, podem insuflar o ego de alguns; de certa forma dão “provas” do status quo, do usuário; por exemplo, se você quer marcar consulta com determinado profissional da área da saúde ─ ou de qualquer outra área ─ e consegue para o dia seguinte, dúvidas pintam em sua cabeça, entre elas ─ será que esse médico é bom?  Será que esse profissional é bom? ─ pois outros tentados antes, estavam com meses de agendamento lotado e isso, para atendimento particular.

Em termos práticos, é claro que as agendas surtem um grande efeito; se compromissos não podem ser esquecidos, o melhor é não confiar na memória; aliás, isso seria inviável, na maioria dos casos e, em nossa época, mais ainda.
Na verdade, o problema não está propriamente nesse instrumento organizacional de atividades; o problema está na quase inversão de prioridades ─ é prioritário para muitos, ter sua vida totalmente agendada enquanto a Vida, em seu sentido mais pleno, fica totalmente marginalizada; não há espaço para Viver nas agendas de todos nós; confundimos a prisão dos compromissos excessivos com ─ VIDA!

Mas, e se isso que consta do parágrafo acima, representar sentido de vida para muitos, quem poderá dizer que está errado? Em estando errado, só a própria pessoa, somente ela deve chegar a essa conclusão e não esperar para ter um piripaque e ouvir, de seu médico, a necessidade em diminuir o ritmo de vida ou mudá-lo, radicalmente.
Usei muitas agendas, em minha vida, não para agendar compromissos e sim, para anotar pensamentos/ideias que surgiam, repentinamente; elas sempre me acompanhavam pois os insights não tinham data/hora, para surgirem; gostava de marcar dia, hora e local para posteriores análises.

Fora isso, fui/sou totalmente avessa a elas; talvez haja explicação bem clara ─ é que sou avessa a compromissos; não corro atrás deles, para assumi-los; se são inevitáveis, cumpro-os.  Pautei minha vida por não tê-los; cedo, muito cedo decidi não casar e nem ter filhos; trabalhei apenas enquanto precisei. Por um fato circunstancial, fui beneficiada com a possibilidade de não precisar trabalhar para cobrir compromissos materiais como comer, pagar aluguel, telefone, internet etc.
Creio que é importante dizer algo ─ mesmo sendo totalmente avessa a compromissos, tenho grande censo de responsabilidade; são coisas diferentes, bem diferentes, sob minha ótica. Censo de responsabilidade parece ser algo que a pessoa nasce com ele, ou não. Censo de responsabilidade é um Sentir, é uma Vivência; ninguém pode ser obrigado a ter responsabilidade; compromissos, sim.

Voltando, o total desconforto com compromissos fez-me também viver a vida sem, praticamente, nenhum planejamento; vivia e vivo cada dia por dia.
A desvinculação prematura do que chamava de “máquina” (leia-se sistema, hoje), teve sua consequência, é claro; chego, daqui a pouco ─ se isso estiver naturalmente previsto, para minha Vida ─ aos setenta anos sem nenhum bem material; nem casa, nem carro, nem aplicações financeiras ─ itens considerados básicos, do convencionado pela maioria, como sinalizador de uma vida bem sucedida ─; nada, materialmente falando.

Não adotei, para mim o que muitos denominam de ─ programação de vida; só sei que agi em acordo com que meu coração pediu/pede e, muito feliz pela Vida ter permitido que meus neurônios não tivessem a necessidade de possíveis desgastes em atividades totalmente contrárias àquelas que me atraem ─ viver o amor (hoje, muito mais holístico);  pensar, ler, estudar, pesquisar, analisar, escrever, pintar, ouvir música, bater papo, dirigir (quando tive um fusquinha e hoje, carro de uma amiga);  beber uísque, viajar de avião, entre outras; para mim, elas não são atividades e sim, atitudes de brinde à VIDA!
Essa foi uma das razões que me fez apaixonada por Vinícius de Moraes! Ele brindou a Vida, literal e metaforicamente, falando. Basta olhar a letra daquela música – O que é que tem sentido nesta vida ou de Testamento, para ter pequena ideia, de intenções que ele não tinha, em relação a ela ─ Vida!

E razão mais do que suficiente, também, para prestar muita atenção naquela música ─ Ouro de Tolo, de Raul Seixas.
Pode parecer que fugi do tema, dando várias voltas, mas não; agendar demais, no meu simples entendimento, pode nos fazer perder a noção de que as melhores coisas, da Vida, independem de agendamentos futuros; elas estão acontecendo exatamente ─ AGORA!
Pode dar ideia, também, que podemos “aprisionar” o tempo, agendando-o para nossa própria comodidade e lucro; triste ilusão!

O AGORA é o Tempo que dispomos para Viver e ele não é cumulativo, como muitos pensam; ele é único; não se repete e ignora ─ agendamentos.
Viver o Agora é uma questão de percepção e aprendizado; não se consegue do dia para a noite e não é, exatamente, o que as pessoas imaginam ser; viver o Agora, simplesmente, é uma questão de estar integralmente envolvido no que se está fazendo; é, em seu básico, estar focado no agora daquela atividade específica, seja ela qual for. Isso não é fácil, inicialmente; sempre que estamos fazendo algo nossa atividade mental nos remete a outra e mais outra; isso nos torna fragmentados; nos faz desperdiçar energia; nos cansa pois, por exemplo, enquanto cumprimos uma atividade, das agendadas já estamos, quase que automaticamente, pensando na (s) próxima (s).

Encerrando, o problema não é a agenda, em si, repito; o problema, creio, é considerar como sentido de vida, ter dezenas e dezenas de compromissos agendados e não ter coragem de trocar, um dia dessa agenda, por uma Tarde em Itapoã (só para lembrar   Vinícius), por exemplo.

Maria-Estrela Lunar Amarela

qualquer erro, por favor, nos informe.

 

 

 

 

Um comentário:

  1. Esqueci de algo importante - os amigos citados, no início do post, teriam coragem - como já tiveram - de fazer a troca proposta no final, dele.

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