terça-feira, 8 de abril de 2014

PENSAR BRASIL



Tenho sentido um certo desânimo em falar sobre o País; esse desânimo se prende ao fato de que qualquer coisa que se escreva, um número expressivo de pessoas interpreta em sentido estritamente ─ político/partidário. No face, acontece a mesma coisa; qualquer opinião que se dê é imediatamente entendida de forma deturpada por extremistas partidários.
Há uma tal dificuldade em se desvincular a situação do Brasil, das amarras partidárias que a maioria, infelizmente, tem; assim, fica difícil qualquer possibilidade de uma análise mais profunda, sobre as diversas questões referentes a ele.

Preocupa-me, também, não podermos esperar que os mais jovens tenham resistência necessária à avalanche de “opiniões”, quase sempre oriundas de pessoas com esta ou aquela ideologia partidária; isto porque, sofremos carência de pensamento original o que significa um grande risco deflagrado por essas “opiniões” a maioria, de baixo calibre.
Há muito estamos sendo “pensados”; os pensamentos “pensados” entram em nossa estrutura quântica dando-nos a falsa impressão de que somos nós, que pensamos.

Um exemplo claro do que disse acima é o famoso Plim! Plim!
Quem tem deficiência de pensamento original encontra, nesse estímulo auditivo ─ que nem sei se vigora hoje, ainda ─ quase que uma palavras de ordem ─ e assim pensamos, por você, para que você não tenha o trabalho de fazê-lo!

Apesar de saber que inúmeras circunstâncias dificultam e encobrem a possibilidade de um ─ pensar original, não deixa de ser extremamente preocupante que os jovens de hoje ─ geneticamente programados pelo Plim, Plim que adentrou no campo informacional de seus geradores ─ fiquem sob domínio dos pensamentos “pensados”; ao final deste, falaremos um pouco mais sobre o pensar original.

Usamos, acima, esse “símbolo” auditivo tão conhecido, apenas para generalizar o que fez e faz a mídia capitalista/neoliberal, não só em nosso País.

O Pensar Brasil, realmente dá bastante trabalho; antes, dava muito mais trabalho pois não havia tanta diversidade informativa; hoje basta boa vontade para pesquisar e montar nosso próprio ─ Arquivo de dados.
Particularmente, desde o final da Ditadura, tenho anotações feitas num tipo de Mapa do Brasil onde, ano a ano ia anotando os índices mais importantes, de cada área ─ PIB, Saúde, Educação, Taxa de Desemprego, Inflação etc.; teve essa configuração até a chegada do computar; agora, uso planilhas onde entram, inclusive, questões relevantes do Brasil em relação a outros Países e algumas análises, pontuais. Por um problema tecnológico, perdi planilhas mais antigas; refazê-las tem me custado um bom tempo.

O famoso Risco-Brasil, tão comentado pela mídia, entrou em minhas análises desde 2007, quando atingiu 137 pontos. Em 2002, em razão do que foi denominado efeito Lula, a taxa alcançou 2446 pontos (setembro). Isso demonstra o quanto esse índice sofre influência do Mercado em função de suas expectativas em relação a governos; ele é, então, sob minha ótica ─ manipulável, para “acomodar/salientar” expectativas do Sistema em relação aos países, principalmente os emergentes.
Baseada em tabelas comparativas, desse índice, pude verificar que em jan/2013, por exemplo, o risco Brasil estava baixo ─ 157 – avaliação feita com base no EMBI+ da JP Mprgan. O EMBI+ é usado, com exclusividade, para medir o risco dos países emergentes; notei então, uma súbita alteração quando a atual presidência baixou as tarifas de Energia Elétrica, no País.

Daí para a frente ─ coincidentemente (?) ─, começaram a pipocar inúmeros movimentos populares de início, pacíficos; entretanto, na sequência, surgiram infiltrados com perfil bastante diferenciado, dos primeiros.
E agora, 2014, por motivos mais que óbvios, estamos imersos numa verdadeira avalanche de noticiários totalmente perniciosos, ao País e claro, a mídia ressalta o aumento do risco país, em cada oportunidade.

 
Não seria exatamente este o momento mais que oportuno para analisarmos o Brasil de forma mais abrangente?

 
Não seria este o momento das pessoas com um pouco mais de disponibilidade mental, avançar em suas análises antes de comentar/escrever coisas sem nenhum valor adicional?

 
Não seria o momento de uma pergunta importante, ser feita ─ O que nós realmente queremos, para o Brasil?

Vou dar alguns exemplos do que desejo, ardentemente, para o País.
Um gigantesco movimento social que varra, de ponta a ponta, o território brasileiro, movimento esse, TOTALMENTE DESVINCULADO de qualquer ideologia partidária e/ou religiosa, iniciado por pessoas bem intencionadas e de Visão Holística, com intuito de ajudar a grande massa a entender e desenvolver, de forma concreta, a tão propalada CIDADANIA!

Gostaria de ver, em todos os municípios do País pessoas envolvidas, diretamente, com ações educativas que favoreçam aos jovens, condições de diálogo criativo, amplo sobre temas de suas próprias vidas, de seus bairros, municípios, do País e do Mundo. Teriam que ser pessoas de fácil contato com os adolescentes; que usem o linguajar próprio deles.

Me permitam narrar, resumidamente, uma experiência tida em 1998 portanto, há 16 anos atrás. Nesse ano, um grande amigo e parceiro de projetos ─ Carlos, professor de física e matemática, dava aulas em regime de voluntariado em um cursinho pré-vestibular para adolescentes de 16 a 21 anos, oriundos de classe pobre, convidou-me para ir ter um papo com eles sobre Pensamento e Visão Holísticos.  O que aconteceu na sequência é inenarrável em poucas palavras. Ao final do bate-papo, pedi a eles que fizessem uma redação com o título ─ O que você pensa da vida e do Mundo, hoje, e o que espera do Amanhã. Disse a eles que poderiam falar o que quisessem e teriam total liberdade para assinar ou não, a redação; só pedi que indicassem a idade.
Uma semana depois, recebemos 365 redações!

Lemos, todas; tenho-as ainda, comigo, pois elas marcam profundamente, a sensação de desamparo, de desilusão dos 365 autores, na época.

Conforme havia combinado, com eles, levamos a resultante de suas exposições, mostrando de início, o quadro dos pontos comuns encontrados que aqui apenas vamos indicá-los em ordem decrescente: drogas; miséria (incluindo neste termo genérico ─ fome, doença, pobreza, menos abandonado); violência; desemprego; desigualdade social; problemas ecológicos; política e poder sem responsabilidade; corrupção; baixos salários; falta de solidariedade; desrespeito aos direitos humano.

Após horas e horas de conversas entre Carlos e eu ─ resultantes de cada ida ao cursinho para bate-papo, com o pessoal ─ decidimos pela estruturação de um projeto educacional alternativo ─ Centros Alternativos de Estudos ─ Brasil 21, enviado a vários e vários pontos, inclusive algumas pastas ministeriais do governo da época – FHC.

Esse projeto enviado ─como tantos outros, em circunstâncias outras ─ tinha o padrão Petrobrás para formulação de Projetos, padrão que sempre consideramos o mais eficaz na elaboração dos mesmo.

De tudo, só sobraram cartas e mais cartas, parabenizando pelo mesmo e dizendo que seria encaminhado, para análises.

Precisei focar essa experiência para apontar a enorme necessidade de darmos voz, aos jovens; esse caso narrado, poderia servir como exemplo de uma primeira tentativa a ser feita, nas diversas escolas públicas do País; com certeza ela revelaria o que de mais urgente está a exigir resposta da própria comunidade, onde a escola está inserida.

Dizer que a educação pública, no País, está uma m é extremamente fácil; é preciso ir além dessa análise rasteira e tentar, comunitariamente, formas de projetos educativos, alternativos; isso exige muito trabalho e determinação mas é totalmente viável, basta querer, de verdade; não é utópico nem alienado do tamanho de nosso País; pois, se um grupo de pessoas arregaçar as mangas e começar a trabalhar em diversos pontos de seus município, isso poderia multiplicar-se de forma vertiginosa.

Talvez um pensamento do grande e revolucionário Paulo Freire possa “endossar” o que propusemos, acima.

Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (negritos da autora, deste)

Teríamos muito mais a expor sobre o PENSAR BRASIL mas preciso considerar a indisponibilidade de tempo e quiçá ─ pouca vontade de leitura, de textos longos.

O PENSAR BRASIL teria que ter uma consequência muito importante ─ DIALOGAR BRASIL

Por que dialogar e não, discutir o Brasil?

Porque são coisas bastante diferentes; já havia percebido isso quando li ─ Diálogos com cientistas e sábios; apesar de haver algumas diferenças de opinião, não havia queda de braço, tão famoso nas discussões; entretanto, só tornei bem mais clara essa percepção quando David Bohm, através de seu livro ─ Diálogo {comunicação e redes de convivência} provou-me, por a + b, a enorme diferença entre discutir e dialogar.

Vamos partir para o encerramento, deste, apenas cumprindo o que prometemos, no início ou seja, falando um pouco sobre Pensamento Original.

Esse pensamento original, não tem nada a ver com os famosos insights; ele tem a ver ─ sob minha ótica ─ com uma opinião nascida de uma pessoa que agrega algo de seu próprio pensar analítico, ao todo por ela pesquisado, estudado. Essa pessoa, privilegiada por pensamento original, não adere nem dissemina pensamentos sem antes analisá-los em profundidade; se resolver fazê-lo com certeza terá algo a acrescentar em função de sua própria análise; exatamente aí reside o pensamento original.

Como o entendimento das pessoas ainda não é tão holístico, é preciso fazer a devida ressalva que nada há de errado em basear-se em pensamentos de outro afinal, não somos uma ilha “pensante”; o que não deve acontecer, no meu entendimento, é o domínio, de outro pensamento, em relação ao nosso próprio; não podemos deixar que sejamos “pensados”.

Maria-Estrela Lunar Amarela

Obs.: abaixo 2 links para quem quiser saber mais sobre avaliações de Risco-País, como é calculado, quais são as Agências de Risco, etc.

algum erro, por favor nos informe.



 

 

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