Creio ser mais que normal, que vez ou outra tenhamos “surtos”
filosóficos; pena que são passageiros e não damos a devida atenção.
Aconteceu comigo, esses dias, ao reler Meditações
Metafísicas, de René Descartes, livro que li há muito tempo atrás e algo, nessa
releitura, chamou minha atenção.
Percebi, com nitidez, o próprio método cartesiano incrustrado, nelas.
No livro o Ponto de Mutação, Fritjof Capra narra que quando
Descartes estava com 23 anos, após concentração profunda em análise de tudo que
até então tinha conhecimento, percebeu,
num súbito lampejo de intuição, os alicerces de uma ciência maravilhosa que
prometia a unificação de todo saber. Em noite posterior a isso, Descartes
teve um sonho; após este, Descartes teve
certeza de que Deus lhe apontava uma missão e dedicou-se à construção de uma
nova filosofia científica.
A extensão tomada pelo trabalho de elaborar o que o lampejo
havia despertado ─ e o sonho, “confirmado”, foi a total submissão do campo
científico ao que foi teorizado, então, por Descartes; o método analítico de raciocínio é provavelmente a maior contribuição
de Descartes à ciência; mas, é interessante observar, o quanto Descartes
considerava inequívoco, o que era “intuído”; para Descartes, a intuição tinha
papel praticamente fundamental, para o conhecimento da verdade.
Houve um ganho extraordinário, do campo científico, com a
adoção/aplicação do método cartesiano; a resultante, entretanto, da cisão cartesiana
entre mente e corpo, foi profundamente letal ao próprio pensamento humano
científico atingindo, por tabela, as áreas humanísticas.
Mas, por incrível que possa parecer, Descartes foi,
essencialmente, um filósofo e trabalhava, magistralmente, com a metafísica a
qual foi/é sistematicamente anulada, desprezada pela ciência, principalmente a
Física pois a metafísica busca questões que vão além do prático, do que é
possível testar, mensurar.
Uma obra literária de Aristóteles, composta de 14
volumes, recebeu do compilador de nome Andrônico de Rodes – século I a.C -, o título de Metafísica pois o mesmo
percebeu que os 8 primeiros volumes tratavam de física, enquanto os 6
restantes, consideravam coisas que iam além da física; por essa razão a
obra recebeu o título citado. A obra, originariamente abordava filosofia geral.
Em tempos recentes, alguns físicos de renome voltaram-se à
metafísica isto porque, a Física Quântica prevê/propõe muito mais do que
simples mensurações práticas; ela está forçando a ciência, de forma geral, a
buscar auxílio no campo metafísico para entender/aprofundar/corroborar certos
pressupostos, dela.
Do livro que inspirou-me esse “surto” filosófico, cito apenas
um parágrafo da Meditação Quinta pois considero que ele traz, em si, vislumbres
da Física Quântica, conforme abordado nos Livros EgoCiência e SerCiência,
disponibilizados para download.
[4] E não só concebo
essas coisas com distinção quando as considero em geral, mas também por pouco
que lhes aplique minha atenção, concebo uma infinidade de particularidades
relativas aos números, às figuras geométricas, aos movimentos e outras coisas
semelhantes, cuja verdade se faz aparecer com tanta evidência e concorda tão
bem com minha natureza que, quando
começo a descobri-las, não me parece que aprenda nada de novo, mas, ao
contrário, que me lembro do que já sabia anteriormente, ou seja, de que percebo
coisas que já estavam em meu espírito, embora ainda não tivesse voltado meus
pensamentos para elas. (negritos meus)
Você deve estar se perguntado e, com razão ─ “mas onde está,
afinal, seu surto filosófico, dentro desse contexto exposto, até agora?
Boa pergunta!
Falamos, até agora, um pouco sobre Descartes, seu método mas
também, sobre sua essência filosófica; isso pode parecer um paradoxo, se
observarmos/analisarmos essa questão até mesmo em função da lógica cartesiana.
Mas, as coisas não são assim, tão abruptamente diferenciadas
e os caminhos do pensar são quase, infinitos.
Abaixo, então, o que denominei de “surto” filosófi.
Pensamentos dispersos no éter desconhecido
encontram-se, naturalmente, com a metafísica, justamente por vagarem nesse
“éter” desconhecido que, a priori, me parece ser, o próprio campo da
metafísica.
Quando esses pensamentos dispersos,
vagantes pelo éter desconhecido, conseguem aninhar-se no campo material do
raciocínio lógico, inserem nele uma lógica diferencial, transcendente que irá
procurar pela resultante metafísica, desse vagar do pensamento, no próprio
campo racional/lógico/científico.
Então, o GRANDE ENCONTRO, pode
acontecer!
O inverso também pode acontecer, subvertendo a ordem anteriormente disposta ou seja, um pensamento determinado como estritamente racional poderá, em sua sequência analítica, alcançar o éter metafísico e, após seu “retorno” ao campo lógico/racional/científico, terá sido ampliado através de uma lógica transcendente que irá procurar a resultante desse vagar metafísico, no próprio campo de onde se “originou”.
Então, o GRANDE ENCONTRO, também pode
acontecer!
─ algum
erro detectado, por favor nos informe.
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