sexta-feira, 16 de maio de 2014

"Surto" Filosófico



Creio ser mais que normal, que vez ou outra tenhamos “surtos” filosóficos; pena que são passageiros e não damos a devida atenção.

Aconteceu comigo, esses dias, ao reler Meditações Metafísicas, de René Descartes, livro que li há muito tempo atrás e algo, nessa releitura, chamou minha atenção.

Percebi, com nitidez, o próprio método cartesiano incrustrado, nelas.

No livro o Ponto de Mutação, Fritjof Capra narra que quando Descartes estava com 23 anos, após concentração profunda em análise de tudo que até então tinha conhecimento, percebeu, num súbito lampejo de intuição, os alicerces de uma ciência maravilhosa que prometia a unificação de todo saber. Em noite posterior a isso, Descartes teve um sonho; após este, Descartes teve certeza de que Deus lhe apontava uma missão e dedicou-se à construção de uma nova filosofia científica.

A extensão tomada pelo trabalho de elaborar o que o lampejo havia despertado ─ e o sonho, “confirmado”, foi a total submissão do campo científico ao que foi teorizado, então, por Descartes; o método analítico de raciocínio é provavelmente a maior contribuição de Descartes à ciência; mas, é interessante observar, o quanto Descartes considerava inequívoco, o que era “intuído”; para Descartes, a intuição tinha papel praticamente fundamental, para o conhecimento da verdade.

Houve um ganho extraordinário, do campo científico, com a adoção/aplicação do método cartesiano; a resultante, entretanto, da cisão cartesiana entre mente e corpo, foi profundamente letal ao próprio pensamento humano científico atingindo, por tabela, as áreas humanísticas.

Mas, por incrível que possa parecer, Descartes foi, essencialmente, um filósofo e trabalhava, magistralmente, com a metafísica a qual foi/é sistematicamente anulada, desprezada pela ciência, principalmente a Física pois a metafísica busca questões que vão além do prático, do que é possível testar, mensurar.

Uma obra literária de Aristóteles, composta de 14 volumes, recebeu do compilador de nome Andrônico de Rodes – século I a.C -,  o título de Metafísica pois o mesmo percebeu que os 8 primeiros volumes tratavam de física, enquanto os 6 restantes, consideravam coisas que iam além da física; por essa razão a obra recebeu o título citado. A obra, originariamente abordava filosofia geral.

Em tempos recentes, alguns físicos de renome voltaram-se à metafísica isto porque, a Física Quântica prevê/propõe muito mais do que simples mensurações práticas; ela está forçando a ciência, de forma geral, a buscar auxílio no campo metafísico para entender/aprofundar/corroborar certos pressupostos, dela.

Do livro que inspirou-me esse “surto” filosófico, cito apenas um parágrafo da Meditação Quinta pois considero que ele traz, em si, vislumbres da Física Quântica, conforme abordado nos Livros EgoCiência e SerCiência, disponibilizados para download.

[4] E não só concebo essas coisas com distinção quando as considero em geral, mas também por pouco que lhes aplique minha atenção, concebo uma infinidade de particularidades relativas aos números, às figuras geométricas, aos movimentos e outras coisas semelhantes, cuja verdade se faz aparecer com tanta evidência e concorda tão bem com minha natureza que, quando começo a descobri-las, não me parece que aprenda nada de novo, mas, ao contrário, que me lembro do que já sabia anteriormente, ou seja, de que percebo coisas que já estavam em meu espírito, embora ainda não tivesse voltado meus pensamentos para elas. (negritos meus)

Você deve estar se perguntado e, com razão ─ “mas onde está, afinal, seu surto filosófico, dentro desse contexto exposto, até agora?

Boa pergunta!

Falamos, até agora, um pouco sobre Descartes, seu método mas também, sobre sua essência filosófica; isso pode parecer um paradoxo, se observarmos/analisarmos essa questão até mesmo em função da lógica cartesiana.

Mas, as coisas não são assim, tão abruptamente diferenciadas e os caminhos do pensar são quase, infinitos.

Abaixo, então, o que denominei de “surto” filosófi.

Pensamentos dispersos no éter desconhecido encontram-se, naturalmente, com a metafísica, justamente por vagarem nesse “éter” desconhecido que, a priori, me parece ser, o próprio campo da metafísica.
Quando esses pensamentos dispersos, vagantes pelo éter desconhecido, conseguem aninhar-se no campo material do raciocínio lógico, inserem nele uma lógica diferencial, transcendente que irá procurar pela resultante metafísica, desse vagar do pensamento, no próprio campo racional/lógico/científico.

Então, o GRANDE ENCONTRO, pode acontecer!

O inverso também pode acontecer, subvertendo a ordem anteriormente disposta ou seja, um pensamento determinado como estritamente racional poderá, em sua sequência analítica, alcançar o éter metafísico e, após seu “retorno” ao campo lógico/racional/científico, terá sido ampliado através de uma lógica transcendente que irá procurar a resultante desse vagar metafísico, no próprio campo de onde se “originou”.

Então, o GRANDE ENCONTRO, também pode acontecer!

 
Maria-Estrela Lunar Amarela

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